Resumo
O mundo e o Brasil deparam-se com o rápido envelhecimento demográfico, e consequentemente, com o aumento da expectativa de vida e o aumento do número de idosos e aposentados. Isso tem provocado novas demandas tanto para as sociedades quanto para as empresas (BERNARDINELLI, I; CANDIDO, S. E. A. 2020).
Diversos estudos científicos enfatizam a importância dos gestores com a implantação de políticas de gestão da idade em suas empresas, que englobam o envelhecimento e a aposentadoria.
Nos últimos anos, tem sido crescente o número de empresas, públicas e privadas, que estão se preocupando com a transição de seus funcionários e aderem aos Programas de preparação para aposentadoria – PPA (PINTO; COELHO-JÚNIOR; CARRETEIRO, 2019) que são ferramentas de assessoria das empresas para seus funcionários no momento da aposentadoria.
Programa de Preparação para Aposentadoria na Visão de Pesquisadores Acadêmicos
Bernardinelli e Candido (2020), trazem a visão de alguns pesquisadores acerca dos PPAs e seus benefícios para as empresas e funcionários. Para os autores, de modo geral, os PPAs trazem uma nova perspectiva para o momento da aposentadoria em busca de um envelhecimento ativo. Amplia a visão frente a novos horizontes e estimula os colaboradores na construção de um projeto de vida e de um plano de ação para aposentadoria, seja em atividades profissionais e/ou pessoais, além de proporcionar subsídios para um adequado planejamento administrativo e financeiro.
De acordo com Almeida e Leite (2012), os programas de preparação para aposentadoria possibilitam que os participantes entendem o fenômeno do envelhecimento melhor e contribuem para desconstruir a imagem do velho ligado à inutilidade, incapacidade e doença, bem como, desperta o interesse para o desenvolvimento de planos e de novas ideias e projetos pós-carreira.
Segundo Debetir e Monteiro (1999), os programas de preparação para a aposentadoria precisam desenvolver um trabalho interdisciplinar, de caráter biológico-psicológico-social, de forma que os empregados possam construir uma concepção de aposentadoria mais positiva e próxima da realidade.
No entender de Victorelli (2007), um PPA deve contribuir para que as pessoas construam o seu próprio projeto de vida; reflitam e discutam sobre as maneiras de usar o tempo livre após o desligamento; se informem sobre as regras e leis que regem o sistema previdenciário; melhorem sua qualidade de vida e participem de atividades ligadas à saúde, ao lazer e a interação social.
França (2000) afirma que o PPA deve se basear numa ampla discussão e avaliação dos fatos, dos riscos e das expectativas que os empregados prestes a se aposentar queiram alcançar no futuro. Para a autora, a empresa, os indivíduos e suas diversidades, e a sociedade em que estão inseridos, devem constituir o ambiente de um PPA.
Relevante a isso, os autores apresentam o PPA como um programa de apoio, que vai direcionar o aposentado para o momento da aposentadoria numa visão mais positiva nos mais variados aspectos (pessoal, social, familiar e financeiro), mostrando novas possibilidades pós-carreira e dando alicerces para a construção de um plano de ação para a gestão da aposentadoria.
Responsabilidade social
Uma das soluções propostas para as organizações é em aderirem aos PPAs como uma nova responsabilidade social (ABRAPP, 2004; DANTAS; OLIVEIRA, 2014). De acordo com Almeida e Leite (2012) os PPAs reduzem os efeitos negativos advindos de uma má aposentadoria e uma velhice não planejada, o que indiretamente influenciam os Estados, do qual tendem a diminuir gastos públicos com uma aposentadoria ativa e com idosos mais independentes (OMS, 2005).
Além disso, beneficiaria também as organizações, melhorando a competitividade da empresa diante a imagem a ser transmitida ao mercado de trabalho e aumentaria o interesse de novos trabalhadores devido ao investimento na mão de obra e a valorização dos seus funcionários (MENEZES E FRANÇA, 2012).
Silva et al (2012) consta que as organizações entendem que, além de auxiliarem no cumprimento de suas responsabilidades sociais, tais programas são excelentes ferramentas gerenciais. Ao assumirem essa responsabilidade fazem um duplo investimento. O primeiro, sobre os empregados que estão se aposentando e que se sentem valorizados a mantém um bom desempenho. O segundo, sobre os demais que observam o cuidado e o respeito que a organização tem pelas pessoas, constatação esta que vem a fortalecer as relações de trabalho e a imagem da empresa no mercado.
Benefícios para as empresas e funcionários
De acordo com Bernardinelli e Candido (2020) e em colaboração com a opinião dos demais autores, podemos concluir que esses programas de PPA se mostram positivos tanto para o âmbito individual do funcionário que está prestes a se aposentar, quanto para o âmbito organizacional das empresas.
A empresa, por exemplo, pode ter como benefícios a renovação de quadros, porém de forma mais preparada com sucessores que preservem o know-how, otimizar o clima interno e a valorização do capital humano, auxiliar no cumprimento das ações de responsabilidade social empresarial e fortalecimento da imagem institucional interna e externa da empresa.
Já com relação ao indivíduo, participante do programa de PPA, este também obtém de certos benefícios, por exemplo, apoio emocional e aceitação da aposentadoria como um processo natural na vida profissional, planejamento do encerramento de suas atividades na empresa, nos aspectos profissional e pessoal, subsídios para um adequado planejamento administrativo e financeiro, assim como, despertar a descoberta de novas fontes de satisfação, reforçando a importância da conquista e manutenção da qualidade de vida.
Fonte e créditos:
Ingrid Bernardinelli – Gerontóloga e Pós-graduada em Engenharia de Produção – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
BERNARDINELLI, I; CANDIDO, S. E. A. Os sentidos sociais da velhice e do envelhecimento nos programas de preparação para aposentadoria de grandes empresas brasileiras. Dissertação (Pós-graduação em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/13400
Demais referências: ABRAPP. Aposentadoria com qualidade, responsabilidade social da empresa. Fundos de Pensão, ano 23, n. 292, p. 41-44, mar. 2004. ALMEIDA, V. F. S. M. V.; LEITE, L. S. Avaliação do Programa de Preparação para a Reserva e Aposentadoria do Comando da Aeronáutica. Meta: Avaliação | Rio de Janeiro, v. 4, n. 12, p. 232-249, set./dez. 2012. DANTAS, P.M.A.B.; OLIVEIRA, C.M. Programas de preparação para aposentadoria: desafio atual para a gestão de pessoas. Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n. 1, p. 116-132, jan./jun. 2014. DEBERT, G.G. (Org.). Velhice e sociedade. Campinas: Papirus, 1999, p. 141-178. FRANÇA, L.H. Repensando a aposentadoria com qualidade – Um manual para facilitadores em programas de educação para a aposentadoria. Livro eletrônico publicado pela Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI/UERJ), Rio deJaneiro, 2002. MENEZES, G.S.; FRANÇA, L.H. Preditores da Decisão da Aposentadoria por Servidores Públicos Federais. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 12(3), 2012. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – OMS. Envelhecimento ativo: uma política de saúde, tradução Suzana Gontijo. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005. PINTO, B. O. S.; COELHO-JÚNIOR, J. B. L; CARRETEIRO, T. C. O. C. Aposentadoria no brasil: uma reflexão sobre os horizontes da população produtiva. Brazilian Journal of Production Engineering, São Mateus, Editora UFES/CEUNES/DETEC, 2019. VITORINO, J. P. F. Envelhecimento, Trabalho e Aposentadoria: expectativas e planejamento para a vida pós-trabalho. Florianópolis, 2017. Disponível (aqui):.